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HUMANIDAD EN RED

Fake News e pós-verdade, as vedetes digitais da infodemia que nos assola - Marco Schneider

    Produção e propagação de informação fraudulenta são práticas tão antigas quanto a própria humanidade. O que há de novo é a escala, a velocidade, a personalização e as obscuras veredas trilhadas na atualidade por esses processos de desinformação, graças às novas tecnologias digitais de comunicação.

    É importante destacar a especificidade do fenômeno. O baixo custo das operações, em comparação com a mídia tradicional; seu alcance enorme e personalizado; e a difícil regulação dessas ações, em termos técnicos e jurídicos, permitiram que se propagassem pelo mundo quase inteiro. Assim, novas modalidades de desinformação tornam-se um elemento influente da superestrutura ideológica emergente da infraestrutura das redes digitais. Essa infraestrutura, por sua vez, é precioso recurso, produto e propriedade da fração principal do grande capital de hoje (junto ao financeiro, o armamentista, o farmacêutico e o energético). As fronteiras entre legalidade e ilegalidade tornam-se nebulosas nessa ambiência, ao ponto do parlamento do Reino Unido ter acusado Mark Zuckerberg de gângster digital, mais ou menos um ano antes de um dos artífices da eleição de Trump, Steve Bannon, ser preso por falcatruas comerciais envolvendo o muro racista separando EUA e México.

    
A publicidade em torno do impacto das ações envolvendo a Cambridge Analytica no Brexit e na eleição de Trump provavelmente contribuiu para a popularização dos termos fake News e pós-verdade.

    
Fake News significa informações falsas, disfarçadas de notícias jornalísticas, produzidas e propagadas intencionalmente, principalmente nas redes digitais, para favorecer grupos de interesse. Têm sido predominantemente empregadas pela chamada nova extrema direita, com efeitos muito graves. O termo também é usado por esses mesmos elementos para desqualificar qualquer notícia séria que contrarie suas posições, gerando mais confusão. Já pós-verdade indica a maior influência de crenças do que evidências na formação da opinião pública. Isso em si não é novidade, a não ser pela velocidade, escala e direcionamento personalizado das informações que a alimentam.

    Fake News e pós-verdade são as vedetes de um conjunto maior de fenômenos de desinformação contemporâneos, cujo corolário é a anticiência, o negacionismo climático, o terraplanismo, os movimentos antivacina, tudo articulado ao crescimento da extrema direita no mundo, que surfa muito bem nesse tsunami tóxico de poluição informativa produzido em grande por ela mesma. Além dos terríveis danos à saúde pública e ao meio ambiente, essa infodemia ameaça a própria democracia, que depende de uma opinião pública esclarecida. Por essas razões, precisa ser muito bem estudada e combatida.

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Marco Schneider é Professor PPGCI/IBICT/ECO-UFRJ. Doutor em Comunicação (USP). Membro da RedhBrasil.